Muito
se tem falado na atualidade a respeito do preconceito às minorias. A bandeira contra o racismo e a homofobia e,
até mesmo questões ligadas à violência e o preconceito contras as mulheres, são
assuntos que estão sempre em pauta nas discussões cotidianas. Sejam elas dentro
do ambiente político, da imprensa ou de debate entre os cidadãos.
É
muito interessante que as pessoas opinem. E essas conversas geralmente acontecem
no trabalho, em casa, nas universidades, nas redes sociais, entre outros
lugares. A questão é que existe um preconceito escancarado, mas muito pouco
debatido até as últimas semanas. O preconceito da classe média paulistana e dos
estados do Sul contra o Nordeste.
Sou
gaúcha, moro em São Paulo há 10 anos, e sempre escutei comentários xenófobos a
respeito dos nordestinos. Coisas do
tipo: “Eles vieram para cá e empestearam a cidade”. “São Paulo é terra de ‘baiano’, aqui só tem
gente lá de cima." E, sinceramente, comentários oriundos de pessoas de todas as
raças, classes sociais e preferências políticas.
É
inegável a preferência do estados do Nordeste pela candidata Dilma Rousseff e,
em eleições anteriores, pelo presidente Lula.
Isso já acontece há algum tempo e, segundo o senso comum, isso se devo
ao fato de grande parte da população de lá ser beneficiada por medidas assistencialistas
e consequentemente eleitoreiras. Se isso é verdade ou não, esse não é o assunto
deste artigo. O que gostaria de discutir
é o ataque de eleitores - que não concordaram com o voto da maioria da
população de lá - e que manifestaram
ódio e preconceito contra os que votaram na candidata do PT.
Entre
os comentários preconceituosos das redes sociais está o do usuário Bruno
(@brunosantiagoz). Ele afirmou que “esses nordestinos desgraçados parecem que
não sabem que a culpa da falta de água em São Paulo é da lazarenta da Dilma”. Já a internauta Júia Colonetti
(@juliacolonetti) escreveu que o “preconceito contra o Nordeste é do Sul mesmo
e tô nem aí, quero que se f* sozinhos pq não tenho culpa da burrice deles."
Pude
sentir o outro lado, lendo um comentário de uma colega de faculdade, que vive
no Ceará, a jornalista Grace Spínola.
Ela escreveu no Facebook o seguinte post:
“Amigos,
vou ser BEM franca: parem de falar mal do nordeste! Quem quiser formar uma
opinião, venha aqui, veja. Mas falar de
‘graça' sobre uma situação que nem se passa na sua cabeça, eu não admito. Muito
menos dizer que o Nordeste deveria ser
‘afastado’ do país. Não importa o ‘tom’, esse tipo de
‘brincadeira’ separatista é nojenta. Não
nasci em Fortaleza, mas moro aqui há tantos anos que me considero nordestina. E
não irei admitir nenhum comentário contra o povo desta terra. Para mim, pouco
importa em quem você vai votar. Respeito é bom e eu gosto. E sim, vou excluir
qualquer um que falar mal de nordestino.”
Muitos
dos posts das redes sociais concluem que “a culpa é dos nordestinos” pelo
resultado da eleição. Como se a Dilma
não houvesse ganhado em Estados expressivo do Sul e Sudeste, como Minas Gerais,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Mas,
como eu disse no início do texto, o assunto do artigo não são os resultados das
eleições, mas os ataques à inteligência e ao poder de voto do eleitor do
Nordeste. Que como outras pessoas que foram alvo de racismo e preconceito,
também têm o direito de serem respeitados.