segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A cegueira além da visão

Semana retrasada assisti o filme Ensaio sobre a Cegueira dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Para quem não sabe, o filme foi baseada na obra de José Saramago – escritor português e Prêmio Nobel da Literatura de 1998. Eu não li o livro, mas há cerca de uns cinco anos mais ou menos, um grande amigo e colega de faculdade – o jornalista Fernando Torres – leitor ávido de Saramago, estava lendo o livro e disse algo que só fui me lembrar durante a exibição do filme. Ele me disse na ocasião que a narrativa do autor era tão rica em detalhes, que ele conseguia imaginar algumas cenas como se ele as estivesse vendo. Quando eu vi o filme pensei o tempo todo na conversa com o Fernando. Com certeza o outro Fernando – o Meirelles - sentiu o mesmo e, por ser cineasta, resolveu fazer um longa-metragem.

Existem centenas de sinopses sobre o filme na internet e em veículos especializados em cinema. Para quem nunca leu ou não sabe nada a respeito da obra, a história descreve uma epidemia de cegueira que atinge uma cidade, fazendo com que as pessoas exponham cada vez mais seus extintos primitivos. É uma análise muito interessante de Saramago – que unida ao olhar de Meirelles – resultou em uma trama forte, mas que me fez refletir. A cegueira é apenas uma analogia da condição humana em situações de fragilidade.

Quando os cegos voltam às ruas encontram um lugar totalmente devastado, onde imperam o caos e a fome. Não estou querendo dizer que sou uma espécie de cientista social ou até mesmo profetiza, mas nesse momento pensei em uma possível posição negativa dos cegos em relação ao filme. Quando fiquei sabendo da manifestação da Federação Nacional dos cegos de Maryland, nos Estados Unidos, me dei conta de que estava certa.

Saramago fez críticas duras ao que aconteceu, dizendo que foi “uma manifestação de mau-humor sustentada em nada”. Concordo em partes com o autor: por mais que a cegueira em si tenha sido colocada daquela forma por fatores subjetivos e tal, eu também entendo o lado daqueles que não puderem ver o filme, mas que mesmo assim sentem-se injustiçados. Talvez em um mundo só de cegos, muitos erros, mazelas e destruições seriam evitadas. E mesmo enxergando - como a mulher do oftalmologista do filme - muitas vezes não temos como sentir a dor e o sofrimento das outras pessoas.

Discussões à parte, o filme é ótimo. Não deixem de assistir! Abaixo, um link para um vídeo de Saramago ao lado de Meirelles após a exibição do filme.

Um comentário:

Anônimo disse...

O filme não vi, mas pretendo...
O livro é fantástico, um dos melhores que li nos últimos tempos....Realmente a riqueza de detalhes do Saramago é o ponto forte da sua obra...E (minha opinião) o melhor do livro foi observar o limite de cada um, como o ser humano pode ser tão mordaz, cruel, desumano qdo ameaçao ou acuado....mt bom! Parabéns pelo blog. bjs